Antes de iniciar o desenvolvimento do projeto final, ainda estamos fazendo alguns exercícios e práticas.
Com a volta das aulas começamos com o fotojornalismo, um assunto muito complicado, denso, polêmico, travesso, contraditório e bonito.

Começamos assitindo ao filme Instantâneos da realidade do fotógrafo Evandro Teixera. Na profissão à mais ou menos 50 anos, Evandro passou pela época mais complicada no Brasil quando falamos de liberdade de expressão, direito autoral, direito de imagem e direitos humanos. Ele documentou a ditadura.
Referência do fotojornalismo brasileiro, ele fotografa até hoje e tem fotografias inesquecíveis para a história do páis. O que mais me chamou a atenção foi a descontração do fotógrafo, até hoje ele parece um menino brincando com a câmera na mão e fazendo fotos incríveis. Contam no filme que quando Evandro era jóvem, ele impressionou o cenário da fotografia no Brasil e vem fazendo isso até hoje.
O fotógrafo não tem somente trabalhos fotojornalisticos, ele também trabalha com livros, ensaios e pesquisas.
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Guerra de Tóxicos, Favela Vila do João, Rio de Janeiro, 1998 |
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Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes
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Na segunda parte vimos o filme The bang bang club, uma ficção baseada em fatos reais sobre a história da guerra no movimento apartheid na Africa do sul. Os quatro fotógrafos Kevin Carter, Greg Marinovich, Ken Oosterbroek e o brasileiro João Silva eram um grupo de fotógrafos que documentaram esta guerra que, não sendo diferente das outras causou muita destruição e morte, inclusive a do fotógrafo Ken Oosterbroek.
O filme mostra bem a relação do fotógrafo com a guerra, que é tão traiçoiera para quem documenta quanto para quem faz a guerra. Muitas angústias vivem os fotógrafos que muitas vezes são contemplados por uma excelente foto que pode ter custado a vida de uma pessoa. Essa é a realidade do fotojornalismo que denuncia, informa e também de alguma jeito "aproveita" da vida (morte) de outras pessoas. ![]()
Por isso o fotojornalismo é uma questão muito complexa que precisa ser encarada com muita responsabilidade e ética.
Mostra no filme, esta foto de Greg Marinovich, de um homem que atirou fogo em um outro vivo e lhe deu pauladas até a morte. Greg fez esta foto apesar de ter ficado chocado e perplexo com a atitude deste homem. Antes de lhe atirarem fogo, o fotógrafo tentou ajudar a vítima, dizendo que era inocente, mas não foi suficiente.
Depois de ter feito a foto, Greg passou por um momento muito difícil, onde a profissão fotógrafo ficou um pouco de lado e ele se sentiu péssimo por ter feito a foto de um homem que foi morto na sua frente nestas circunstâncias. A foto foi publicada no mundo inteiro por vários jornais. Greg foi intimado pela polícia que queria que ele testemunhasse a favor da vítima e entregasse seus negativos. O fotógrafo resistiu alegando que se fizesse isso estaria escolhendo um lado e que seria impossível continuar sua vida como fotógrafo de guerra. Ele some do pais, vai fazer outras coisas, mas volta quando a polícia desiste de lhe interrogar porque ele foi vencedor do prêmio Pulitzer de fotografia*.
* este prêmio é uma realização americana que contempla profissionais em áreas como jornalismo, literatura e artes. Dentro do jornalismo, temos o fotojornalismo e todo ano uma sequencias de fotos são indicadas, e uma delas é eleita vencedora do prêmio. Curiosamente as fotos vencedoras sempre tem uma fator social muito forte, ano após ano o sofrimento dos outros é retratado em fotos vencedoras.
No filme the bang bang club, dois fotógrafos recebem o Pulitzer e isso mexe muito com o emocional deles.Kevin Carter autor de uma fotografia que praticamente todos nós guardamos na memória, ganhou o Pulitzer no ano de 1994. Mostra o filme que Carter ficou muito feliz com a contemplação pois passava por um momento difícil com as drogas e esse prêmio foi como uma injeção de auto estima. Porém ele passa por um momento delicadíssimo que assombra o fotojornalismo, as pessoas começaram a questionar se ele havia ajudado a garotinha da foto que nitidamente passava fome e estava sendo vigiada por um abutre também faminto. Contam que o alojamento da ONU era a pouco mais de um quilômetro dali e ainda assim ele não a ajudou.Ele mais ou menos espantou o abutre e foi embora, levando a melhor foto do ano de 94. Três meses depois, Carter se matou deixando um bilhete ".....sou perseguido pela viva lembrança de assassinatos, cadáveres, raiva e dor… Pelas crianças feridas ou famintas… Pelos homens malucos com o dedo no gatilho, muitas vezes policiais, carrascos… Se eu tiver sorte, vou me juntar ao Ken..."
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Dentro deste contexto, ainda não consigo chegar a um lugar
'confortável' sobre o fotojornalismo e sua relação com as pessoas. Talvez isso
nunca aconteça, talvez isso sempre aconteça. É ambígua a situação, alguém
precisa saber, alguém precisa contar. É forte demais contar essas coisas
com imagens, se são palavras, o resto fica por conta da nossa imaginação. Mas o
que estamos vendo, é o que estamos vendo.
No livro Diante da dor dos outros, da ensaísta Susan Sontag,
fazemos infinitas reflexões sobre essa relação imagem\pessoa, e o impacto
delas, principalmente na guerra, no sofrimento. A fotos informam e escolhem um
lado, nos jogam contra a parede. ainda não terminei de ler o livro, ainda não
cheguei a lugar nenhum e isso não vai acontecer.
No festival Foto em Pauta em Tiradentes que acontece todo ano, se
apresentou o fotojornalista Maurício lima, não pude participar do festival,
mas acompanhei pela internet e pelos colegas que puderam ir, sua apresentação
foi muito emocionante pela postura do fotógrafo diante desse assunto. resumindo,
ele conta a história de um garoto que perdeu a visão em meio as guerras no Afeganistão,
Maurício fotografa o garoto com a intenção de ajudá-lo, o garoto recebe um tratamento fora do país e recupera a visão. Nas palavras do
fotógrafo,"o fotojornalista precisa expor suas idéias, sua opinião,
porque não existe um jornalismo imparcial e neutro. É preciso estar de algum
lado, e por isso prefere ser um fotógrafo independente."
http://www.youtube.com/watch?v=yIYk65fPt9g&feature=share - entrevista com o fotógrafo no festival