quarta-feira, 28 de março de 2012

Fotojornalismo.

Antes de iniciar o desenvolvimento do projeto final, ainda estamos fazendo alguns exercícios e práticas.
Com a volta das aulas começamos com o fotojornalismo, um assunto muito complicado, denso, polêmico, travesso, contraditório e bonito.

Começamos assitindo ao filme Instantâneos da realidade do fotógrafo Evandro Teixera. Na profissão à mais ou menos 50 anos, Evandro passou pela época mais complicada no Brasil quando falamos de liberdade de expressão, direito autoral, direito de imagem e direitos humanos. Ele documentou a ditadura. 
Referência do fotojornalismo brasileiro, ele fotografa até hoje e tem fotografias inesquecíveis para a história do páis. O que mais me chamou a atenção foi a descontração do fotógrafo, até hoje ele parece um menino brincando com a câmera na mão e fazendo fotos incríveis. Contam no filme que quando Evandro era jóvem, ele impressionou o cenário da fotografia no Brasil e vem fazendo isso até hoje. 
O fotógrafo não tem somente trabalhos fotojornalisticos, ele também trabalha com livros, ensaios e pesquisas. 
 
Guerra de Tóxicos, Favela Vila do João, Rio de Janeiro, 1998 


 No filme contam que esta fotografia de Airton Sena mudou a visão de muitos fotógrafos sobre modo de fotografar pilotos de corrida. Fazendo uma foto mais fechada, um close no rosto do piloto, coisa que ninguém havia ousado antes de Evandro Teixeira.

Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes


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Na segunda parte vimos o filme The bang bang club, uma ficção baseada em fatos reais sobre a história da guerra no movimento apartheid na Africa do sul. Os quatro fotógrafos Kevin Carter, Greg Marinovich, Ken Oosterbroek e o brasileiro João Silva eram um grupo de fotógrafos que documentaram esta guerra que, não sendo diferente das outras causou muita destruição e morte, inclusive a do fotógrafo Ken Oosterbroek. 



O filme mostra bem a relação do fotógrafo com a guerra, que é tão traiçoiera para quem documenta quanto para quem faz a guerra. Muitas angústias vivem os fotógrafos que muitas vezes são contemplados por uma excelente foto que pode ter custado a vida de uma pessoa. Essa é a realidade do fotojornalismo que denuncia, informa e também de alguma jeito "aproveita" da vida (morte) de outras pessoas.  

Tudo que está envolvido ao meio social, à nossa humanidade é muito delicado, principalmente quando se faz isso com a intenção de mostrar a verdade, como é no filme. Se pessoas estão matando umas às outras de forma cruel e sem motivo, é obrigação do fotojornalismo ilustrar ao resto do mundo que em algum lugar as pessoas estão colocando fogo umas nas outras até morte. 
Por isso o fotojornalismo é uma questão muito complexa que precisa ser encarada com muita responsabilidade e ética. 

Mostra no filme, esta foto de Greg Marinovich, de um homem que atirou fogo em um outro vivo e lhe deu pauladas até a morte. Greg fez esta foto apesar de ter ficado chocado e perplexo com a atitude deste homem. Antes de lhe atirarem fogo, o fotógrafo tentou ajudar a vítima, dizendo que era inocente, mas não foi suficiente. 
Depois de ter feito a foto, Greg passou por um momento muito difícil, onde a profissão fotógrafo ficou um pouco de lado e ele se sentiu péssimo por ter feito a foto de um homem que foi morto na sua frente nestas circunstâncias. A foto foi publicada no mundo inteiro por vários jornais. Greg foi intimado pela polícia    que queria que ele testemunhasse a favor da vítima e entregasse seus negativos. O fotógrafo resistiu alegando que se fizesse isso estaria escolhendo um lado e que seria impossível continuar sua vida como fotógrafo de guerra. Ele some do pais, vai fazer outras coisas, mas volta quando a polícia desiste de lhe interrogar porque ele foi vencedor do prêmio Pulitzer de fotografia*.

* este prêmio é uma realização americana que contempla profissionais em áreas como jornalismo, literatura e artes. Dentro do jornalismo, temos o fotojornalismo e todo ano uma sequencias de fotos são indicadas, e uma delas é eleita vencedora do prêmio. Curiosamente as fotos vencedoras sempre tem uma fator social muito forte, ano após ano o sofrimento dos outros é retratado em fotos vencedoras. 


No filme the bang bang club, dois fotógrafos recebem o Pulitzer e isso mexe muito com o emocional deles.Kevin Carter autor de uma fotografia que praticamente todos nós guardamos na memória, ganhou o Pulitzer no ano de 1994. Mostra o filme que Carter ficou muito feliz com a contemplação pois passava por um momento difícil com as drogas e esse prêmio foi como uma injeção de auto estima. Porém ele passa por um momento delicadíssimo que assombra o fotojornalismo, as pessoas começaram a questionar se ele havia ajudado a garotinha da foto que nitidamente passava fome e estava sendo vigiada por um abutre também faminto. Contam que o alojamento da ONU era a pouco mais de um quilômetro dali e ainda assim ele não a ajudou.Ele mais ou menos espantou o abutre e foi embora, levando a melhor foto do ano de 94. Três meses depois, Carter se matou deixando um bilhete ".....sou perseguido pela viva lembrança de assassinatos, cadáveres, raiva e dor… Pelas crianças feridas ou famintas… Pelos homens malucos com o dedo no gatilho, muitas vezes policiais, carrascos… Se eu tiver sorte, vou me juntar ao Ken..."



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Dentro deste contexto, ainda não consigo chegar a um lugar 'confortável' sobre o fotojornalismo e sua relação com as pessoas. Talvez isso nunca aconteça, talvez isso sempre aconteça. É ambígua a situação, alguém precisa saber, alguém precisa contar. É forte demais contar essas coisas com imagens, se são palavras, o resto fica por conta da nossa imaginação. Mas o que estamos vendo, é o que estamos vendo.
No livro Diante da dor dos outros, da ensaísta Susan Sontag, fazemos infinitas reflexões sobre essa relação imagem\pessoa, e o impacto delas, principalmente na guerra, no sofrimento. A fotos informam e escolhem um lado, nos jogam contra a parede. ainda não terminei de ler o livro, ainda não cheguei a lugar nenhum e isso não vai acontecer. 

No festival Foto em Pauta em Tiradentes que acontece todo ano, se apresentou o fotojornalista Maurício lima, não pude participar do festival, mas acompanhei pela internet e pelos colegas que puderam ir, sua apresentação foi muito emocionante pela postura do fotógrafo diante desse assunto. resumindo, ele conta a história de um garoto que perdeu a visão em meio as guerras no Afeganistão, Maurício fotografa o garoto com a intenção de ajudá-lo, o garoto recebe um tratamento fora do país e recupera a visão. Nas palavras do fotógrafo,"o fotojornalista precisa expor suas idéias, sua opinião, porque não existe um jornalismo imparcial e neutro. É preciso estar de algum lado, e por isso prefere ser um fotógrafo independente." 

http://www.youtube.com/watch?v=yIYk65fPt9g&feature=share - entrevista com o fotógrafo no festival